28 de set. de 2010

Qual a Palavra?






Nas estradas mais antigas,
trilhas, atalhos,
nas montanhas altas, escarpadas,
nas vilas, nas cidades,
nos oceanos, cachoeiras,
em todos os rios
e fios de água,
em todas as ruas
e becos,
nos recantos escuros
e claros,
em cada pedaço
de mundo
grande ou pequeno,
uma palavra estandarte
costura a Terra no céu,
costura os homens na Terra,
inventa a vida.

Nos gestos de todo dia,
na mesa posta, no olhar,
no sorriso, na carícia,
uma palavra vem antes de todas,
é a chave da lua e do sol.

Lua perdida
nos quatro cantos
do mundo,
assombrando os sonhos.
Às vezes adormecida
no rastro vermelho
do sol.

Uma palavra é argila,
trigo e floresta.
É água macia
de lavar as mãos
e os corações.
Fio primeiro de todos os panos,
nessa palavra as palavras se banham.

Essa palavra tão pequena
e grande,
pássaro palpitante,
palavra viva em carne viva.

Palavra de mudar o mundo,
de fazer pão e telhado,
de abrir os cadeados,
as porteiras trancadas
do universo,
as águas azuis
que dormem no fundo
de cada homem.

Palavra escrita na palma
da mão de cada gente,
junto com as misteriosas
linhas da vida.
Junto com a trama
secreta
do destino.

É preciso soletrar
suas letras,
soprar bem alto
seu nome sonoro,
como poeira mágica,
como pólen, seiva
ou luz.

Nas chamas do dia,
nos ventos da noite,
pelos mares, oceanos,
desdobrar sua magia,
como se desdobram
as velas guardadas
de um barco.

Por todos os vales,
riachos, montanhas,
acordar seu nome,
soar seus sinos,
espalhar seu brilho.

Acordar seu nome
como o sol
acorda seus pássaros
e a noite os seus mistérios.

Para que os homens
de todas as terras,
de todas as línguas,
de todas as cores,
de todos os povos,
para que todos os homens
dancem junto com a terra
a dança silenciosa dos astros.

A dança secreta
dos astros,
desde sempre dançada,
infinitamente.

E para que a terra possa
continuar viva para sempre,
sempre viva rodando para sempre,
rodando para sempre,
rodando para sempre.

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