- Você sempre chega de mansinho, de lugar nenhum...
- Oi pra você também!
- Ah, desculpe Carter, mas, às vezes você me prega um
susto!
- Está bem, vou tentar ser mais barulhento da
próxima vez.
- Melhor assim. Como tem passado?
- Eu, bem... Já você, aparentemente confusa...
- Como sempre!
- O que foi dessa vez?
- Parecem ser coisas diferentes, mas, é apenas uma
dúvida, que se divide em mil!
- “Quem eu sou?”!
- Às vezes, eu acho que você conhece a mim, mais do
que eu mesma.
- Talvez isso seja verdade... Agora mesmo, estou
sentindo você arrependida.
- Arrependida?
- Sim, de algo que você nem teve a oportunidade de
tentar...
- Humf...
- Quantas vezes eu tenho que dizer que você é
jovem?! Você tem tempo, tempo pra perder com coisas aparentemente inúteis, mas,
que te deixam, infinitamente feliz...
- Mas, eu acho tudo tão rápido, e, há certas coisas
que não me garantirão um futuro brilhante, como diz minha mãe...
- Você não vive pela sua mãe, ou melhor, só pra
ela. Você pode, e deve “perder tempo” com essas coisas, com suas histórias,
seus livros de fantasia, seus sonhos impossíveis, que com um empurrãozinho
podem se tornar muito possíveis. Você pode perder tempo estudando sobre os
diversos tipos de técnicas de pintura, ao invés de aprender a fazer gráficos de
funções quadráticas... Sabe por quê? Porque você tem tempo, e você sabe
disso... Mas, perdoe-me pela sinceridade, você é covarde demais pra ser você...
E acaba sendo outra pessoa, limitada, e bem menos interessante, exatamente o
oposto do que você é de verdade...
- Carter, você deve ter algum poder psíquico, e
entrar na minha cabeça, ou melhor, na minha alma, e decifrar até a mais ínfima
das minhas características...
- Características nunca são ínfimas... Você, de
fato, não o é. Quer alguns conselhos que parecem bobos, mas, não o são nem um
pouco?
- Eu sempre quero conselhos seus, Carter!
- Não tenha medo de dizer que gosta de rock, só
porque o mundo é pop. Não tenha medo de saltar de pára-quedas se alguém um dia
lhe convidar para tal esporte. Não tenha medo de tentar coisas novas. Não tenha
medo de perder uma aula de química, e ir aprender a tocar banjo. E acima de
tudo, não se arrependa, sendo assim tão jovem... Porque você tem tempo pra
fazer tudo isso que você se arrepende de não ter feito... Você não está morta,
está viva, e muito viva... Você só precisa de coragem.
- Carter, você sempre sabe de tudo, não é mesmo?
Seu cigano bendito, sempre me decifra até a última gota de mim! Mas, ainda
assim... Minha pergunta continua sem resposta...
- Você sabe quem você é... Só tem medo de ser, medo
de perder tempo, e é isso que eu tento te dizer desde que eu cheguei! Você tem
tempo pra perder!
- E você? Tem mais alguns minutos pra mim?
- Infelizmente não, minha doce criança... Talvez eu
apareça, quando você estiver cheia de dúvidas, mesmo tendo todas as respostas
aí dentro, não na cabeça... Mas, no coração, na alma... Até lá, eu espero que
você deixe o medo de lado, e finalmente se descubra... Ou, se aceite, se for o
caso. Adeus.
- “Adeus.”. É uma palavra tão forte... Eu prefiro
um até logo...
- Quando você não precisar mais de mim, é porque já
estará com a alma feita, sem medo. E isso é bom... Eu continuo dizendo adeus,
mas, se precisar... Chegarei de repente, como sempre fiz... Um pouco mais
barulhento da próxima vez...
- Adeus, Carter... Ou até logo, se for o caso.
- Durma criança... Doce e sonhadora criança, e
sonhe... Talvez seus sonhos se tornem reais.